domingo, 20 de maio de 2007

Índio não quer cachimbo, quer fumaça.

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A fumaça atrapalhava a visão dos que entravam, era assim todas as noites no Bar do Escritor, os que estavam lá não se importam, encharcados pelo álcool, sem distinguir o que era fumaça de cigarro ou do gelo seco que vinha do palco. A rotina era essa, corpos alcoolizados, música ambiente, risos... A garçonete olhava tudo com olhos diferentes, especialmente nessa noite estava diferente, como se repensasse toda sua vida.

-Hei Me, traz meu conhaque. Ta de moleza mulher? Era Véio China, sempre mal acostumado, achava que ela tinha que esperá-lo com o copo à mesa.

-Olha o jeito caboclo. Eu não bato em véio e nem bebum, mas tenha respeito com minha nega. Disse Doctor, sempre tomando as dores da moça, como se fosse seu dono. Ela tinha grande carinho por ele, o chamava de Guapeca, cão vira lata no dialeto gauchêz.

-Ao trabalho. Sirva a mesa do fundo, eu cuido desses bebuns. Querem tratamento de primeira? Eu dou. O Barman depositou com força o copo de conhaque na mesa do velho. Ele percebera o olhar perdido da moça e sabia que não estava bem.Se o Bar não tivesse tão cheio até a dispensaria, ele era um bom patrão.

Começa uma briga. Ossip, assíduo freqüentador, vendo o Fernando, maloqueiro conhecido, se insinuar para uma freguesa, interveio. Cadeiras voaram, copos foram arremessados, gritos histéricos das moças do reservado, Thaís, Alessandra, Larissa, Jimenna, Flávia e Rosália, e o Barman sem saber onde acudir primeiro.

Um grito de mulher entoa e todos fazem silêncio: Me, a garçonete, fora atingida por uma garrafa na cabeça. A cena parecia congelada.Todos ficaram mudos.
-Acertaram a Me. Foi o único som que se ouviu no Bar. Todos queriam socorrer a moça. O sangue jorrava. Seria seu fim? Morrer de uma garrafada num Bar de quinta categoria? O Barman ficou histérico:

-Quem foi o filha da puta que fez isso?

-Esquece disso e estanca o sangue. Disse Leonardo, o segurança que entrara com a gritaria. Pegaram uma toalha e amarraram firme em sua cabeça.

-Tem algum médico aqui? Paulão Fardadão, policial assíduo do boteco perguntou aos curiosos.

-Mim ser. Um cara minguado, cor de burro quando foge, cabelos escorridos, parecia descendente de índio brasileiro, todo feinho de dar dó.

-É médico, fera?

-Ser sim, lá na tribo dos Tupiniquins da Amazônia.

-Faz alguma coisa então seu índio de uma figa. O Barman estava descontrolado, sempre presenciava brigas no seu Bar, mas nunca o prejuízo ultrapassava o lucro. Dessa vez sabia, era peça primordial essa garçonete, ia ser a falência na certa se morresse, além de que, seu orgulho de macho estava atacado, afinal todos pensavam que ele a comia depois do expediente e para criar respeito, não desmentia o fato.

-Índio precisar privacidade, levar moça pro reservado. Índio usar ervas e cachimbo milagreiro.Levaram a moça e índio se trancou no quarto.

Depois de duas horas saiu com cara de felicidade e disse:

-Moça bem, vai viver. A garçonete veio logo atrás, toda desalinhada e com um sorriso sem vergonha na cara.Todos se aproximaram para vê-la.

-Deixem moça em paz. Ela precisar de sossego. Agora ser “Lua Morena”, noiva de índio Cavalo Malhado.

-O que?

-Mim dizer: Moça branca ir pra tribo casar com índio. Tudo muito rápido, igual nuvem de fumaça.

-Que tribo caralho?...

-Desculpa chefinho, eu vou sim, encontrei o amor da minha vida...Saíram em disparada sob os olhares atônitos de todos.
O faxineiro Kaspa varria os cacos quando reparou na garrafa que tinha acertado a garçonete.

-Que estranho chefe. Essa marca de bebida eu nunca vi por aqui. Cachaça de Manaus.

-Deixa ver. O barman leu no rótulo: Fabricação artesanal da Tribo dos Tupinanquins da Amazônia.



Me Morte

Um comentário:

Doctor t. disse...

Hehe !!

gostei do novo visual do blog !!

E Valeu pela lembranca no conto !!

besossssss minha nega !!

rsssssssssss