sábado, 23 de junho de 2007

Sedução



Encontrei uma andorinha literata.De galho em galho me provocava, fazia mil caras, sedução.

Eu, sabiá descolado, sempre nas noites, sempre garanhão, caí ao chão!

E a linda andorinha seguia, pelos bosques me olhava, de rabo de olho piscava.Quando eu virava me lia, me absorvia, sugava...Percebo que a linda andorinha chupou a alma que um dia eu disse estar morta.
Agora bateu uma tristeza! Percebo que, sem querer, enfeitei a mesa para a linda andorinha morrer.

Queria dar a mão, na agonia, beijar a fronte que me fez renascer, mas estou morto a dias, devorado pelos olhos amados, esperando para ser enterrado de tanta tristeza!

Não terei sorte?A vida para mim é morte?Ou sou eu que mato os amores?

Deus!Tire meus olhos, me cegue!Para nunca mais espiar essa febre que de mim se apoderou!
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Me
(foto de Antônio Manuel Pinto da Silva)

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Indigente

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O corpo estendido na maca era de mulher. Coberto de carne dilacerada, o peito aberto como se tivesse levado dezenas de facadas. Um corpo nu, mais nada. Morto, abusado, seco de sangue e sujo de gozo. Estuprada. Uma mulher que há pouco respirava. Há pouco sorria, chorava, vivia, cantava...Fragilidade e frieza própria de quem morre. Morta, nua, intocável, finalizada. Será que foi amada? Ou morreu só? Teria uma história de vida ou a morte seria sua história? Ninguém sabe. Ninguém se importa. Ninguém lhe daria rosas no túmulo.
Era um cheiro de éter insuportável!
-Merda! Meu pai bem que dizia: Seja dentista! E eu optei por médico legista. -Desculpe moça. Não fossem esses furos até que dava.
Guardou o membro, fechou o ziper da calça e empurrou a gaveta. Ela merecia um epílogo.






Me

terça-feira, 19 de junho de 2007

Ame-me querida

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O silêncio era interrompido vez ou outra por um grito ou freada brusca vindo da rua. O quarto era simples, a cama de ferro, lençol branco e jarro de água na cabeceira.
-Oi amor. Demorei muito? Ele chegou perto da cama e puxou o lençol deixando à mostra o corpo miúdo vestido com uma camisola de algodão – Os meus pacientes não me deram folga hoje, fiz três cirurgias.
A moça parecia abatida, inerte, como se estivesse em outra dimensão.
-Ficou chateada? Ora, venha cá. Vou dar o que você gosta.
Rasgou o tecido e o seio descoberto parecia convidá-lo a luxuria com seu bico rosa e durinho. Abocanhou-o enquanto com sua mão procurava seu sexo abrindo a passagem estreita e seca.
-Vamos meu amor, eu sei que você pode fazer mais que isso. Teu ursinho chegou não me deixe com raiva. Penetrou seu membro de supetão e estocou-a uma, duas, três vezes, como se quisesse castigá-la.
A moça continuou apática e isso o deixou mais irritado, virou-a de bruços e fodeu seu ânus como um animal. O sêmen misturava-se ao sangue por entre as coxas alvas.
-Sua vadia. Sempre a mesma coisa. Não faz nada. Nenhum gesto de amor. Gosta de ser machucada.
Novamente excitado se aproximou de seu rosto e disse:
-Vai engolir minha porra hoje.
Algum tempo depois, com o membro mole, limpou-se rapidamente e saiu trancando a porta. Antes se virou e disse:
-Até breve meu amor.
Na garagem ficou de tocaia. Era 7 da manhã, estava na hora. Viu o moço na porta lateral e não hesitou, ligou o motor e saiu em disparada. Acelerou e num só golpe atropelou o rapaz. Com rapidez colocou-o no porta malas e limpou os vestígios de sangue com a mangueira que o faxineiro guardava no cantinho da escada de incêndio.
Calmamente pegou o telefone e discou...
Mais tarde ao chegar á clinica viu uma aglomeração se formando na recepção e quis saber:
-Enfermeira, o que aconteceu?
-A paciente do 318 doutor. Faleceu.
-Como? Estava estável, era coma induzido.
-Estupro doutor. Pelo enfermeiro de plantão. O maníaco a asfixiou com o próprio sêmen. O estranho é que a polícia recebeu uma denúncia anônima em seguida. Parece que o enfermeiro surtou e desapareceu.
-Ninguém sabe dele?
-Ainda não o pegaram. Foi durante a madrugada. Essa aglomeração é dos repórteres. Uns urubus.
-Alguma novidade?
-O de sempre. Dois acidentes e quatro internações.
Dois homens, uma criança e uma mulher.
-Jovem?
-Sim, uns trinta anos.
Seus olhos brilharam.

Me

.(foto de Rui Evaristo)

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Meta

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-A senhora reconhece algum deles? O detetive apontou através do vidro: Seis homens enfileirados. Rosa estava segurando o choro enquanto olhava atentamente, um a um.

-O terceiro.

-Tem certeza?

-Olha, certeza, certeza, eu não tenho. Sofro de miopia, não vejo bem de longe. Eu tenho certeza que os outros não são, a pele era morena como a do terceiro.

-Hum...O policial coçou a cabeça e disse ao colega: Traga o rapaz aqui, o terceiro, vede os olhos dele para que não veja.

-Não. Não precisa. Deixe ele me ver. Quero que saiba que fui eu. Não me importo. Trouxeram o rapaz e a moça apoiou o braço na parede, estava enojada, levou a mão à boca.

-Está se sentindo bem? Quer um copo d”água”? O policial percebeu sua súbita palidez.

-Não. Não precisa, obrigado. Abaixou o rosto e vomitou no canto da sala.

-Por favor Dona Rosa, diga logo e retiro o meliante, assim se sentirá melhor. Reconhece o pedófilo que estuprou sua filha?

-Não.

-Não?

-Não é ele. Tenho certeza. Saiu em direção à porta e quando passou ao lado do rapaz, parou e olhou bem nos seus olhos. O rapaz virou de costas, não queria que ela mudasse de idéia. Dona Rosa, como se tivesse planejado, o abraçou por trás enquanto, ao mesmo tempo e sem piedade, enfiou fundo uma faca afiada em seu coração. As mãos juntas, firmes, não desprendiam, por nada. O sangue jorrava junto aos gritos do bandido, os policiais tentando tirá-la e a lâmina fundo, contraindo toda musculatura do corpo que estrebuchava.

-Tira ela...solta! Num tranco tiraram Dona Rosa e a faca ficou lá, cravada fundo enquanto o rapaz agonizava no chão da sala. Dona Rosa segurou o peito e num segundo viu tudo escurecer. Enfartou ali mesmo. Enquanto faziam os primeiros socorros, a mulher abriu os olhos e sussurrou:

-Perda de tempo, eu vou morrer.

-Não. A senhora tem que reagir, fique calma. Teve uma parada cardíaca e o médico de plantão teve que usar o desfibrilador, por sorte tinham comprado uma na semana passada depois que um policial falecera por demora no procedimento.

-Ela voltou...A senhora vai ficar bem, vamos levá-la ao hospital.

-Não...deixe-me morrer. O pulso estava fraco. O policial disse:

-Dona Rosa, o pedófilo está vivo, não morreu. Ele escapou e a senhora também vai viver. Ela abriu os olhos a procura do infeliz e começou a reagir.

-Pronto. Apliquei uma sedativo, agora a levem ao hospital. Por que disse que o cara estava vivo? Ele já agonizou faz tempo.

-Ela reagiu não foi?


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Me Morte
(foto de ABrito - Beauty)

terça-feira, 5 de junho de 2007

Obsessão (foto de Graça Loureiro)

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Teus olhos são lindos!

-Por favor...

-Quieta...Deixe-me contemplar a luz que irradia deles. Azuis como um céu, brilhantes como a lua. Teus olhos me fascinam, me dominam, me atraem como imãs. Quanto te vi pela primeira vez já sabia: seriam meus. Quero ser teu guia, teu cão, teu amor. Olhe para mim. Veja meu rosto. É tua imagem perpétua refletida nele.Aproximou-se e beijou os olhos da moça num ritual mágico.

-Por favor...

-Quieta.

Imóvel, amarrada à cadeira,não pode se defender quando as duas agulhas penetraram em sua retina...

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Me Morte

segunda-feira, 4 de junho de 2007

CILADA II (foto de Graça Loureiro)

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A cena era clara: O marido comia como um porco. Fazia ruídos com a boca, o som da mastigação era nojento. À noite roncava atrapalhando meu sono. Babava no travesseiro. Tinha um recipiente na beira da cama que usava durante a madrugada para mijar, por pura preguiça de ir ao banheiro. Bebia muita cerveja em frente à TV e depois ia dormir. Não deu noutra: virou o conteúdo do pinico em nossa cama. Que cheiro! Aquele líquido morno tocara minha perna...
Voltei à realidade e dei a resposta que todos esperavam.
-NÃO.
O padre confuso perguntou novamente:
-Maria Luiza: aceita Paulo Roberto, como seu legítimo esposo, para amar e respeitar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte os separe?
-NÃO.Virei as costas e fugi em disparada.
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Me